“A Neblina Tem Muitos Nomes” e os mistérios da existência

por Culturadoria
em 26/Abr/2024

O escritor (e médico) Rodrigo Bragamotta lança neste sábado, 27 de abril, livro que usa a neblina como metáfora para falar da vida

Patrícia Cassese | Editora Assistente

O médico e escritor Rodrigo Bragamotta conta que, como acontecimento metereológico, a neblina é um fenômeno que o acompanha desde pequeno. “Afinal, nasci em Entre Rios de Minas, uma cidade situada entre dois rios: Brumado e Camapuã”, comenta ele, lembrando que a formação resultante da condensação da água evaporada é um evento bastante comum em regiões de beira rio.

A conversa sobre a ocorrência climática, vale situar, diz respeito ao título do livro – “A Neblina Tem Muitos Nomes” (Cas’a Edições, 136 páginas, R$ 60), que o escritor lança neste sábado, 27 de abril, no Vila 211, na Serra. Neste caso, a palavra entra como uma metáfora. “É sobre não conseguirmos enxergar tudo, não nos ser permitido enxergar tudo”, diz Bragamotta. Portanto, enfatiza, diz sobre as incertezas da vida, sobre não haver garantias. “Mesmo no meu caso, que passei por um longo processo psicanalítico, procurando me conhecer, nem tudo me foi desvelado, nem tudo descobri. Sobrou em mim, ainda, muita neblina”, reconhece.

Criança neblina

“Além disso, eu fui uma criança neblina”, prossegue Rodrigo Bragamotta. “Ou seja, dentro de mim havia ansiedade e angústia desde muito novo. Havia neblina. Não fui uma criança leve e que via a vida descomplicada, ao contrário: minha natureza era diferente”. Mas, ainda assim, ele se diz grato à criança que foi. “Ela me trouxe até aqui, de mãos dadas, ao encontro da escrita”.

No material de apresentação da obra enviado à imprensa, está pontuado que, em essência, “A Neblina Tem Muitos Nomes” é uma obra “sobre o luto pela perda de um grande amor”. No caso, a mãe do autor. Por meio deste disparador, a obra se propõe, assim, a perpassar temas que são universais.

“Bergamota”

Isso por meio de textos como “Bergamota”, que ele apresenta como um conto sobre a mexeriqueira que havia no quintal da casa de infância. “Não há como voltar para esta casa, não é mais possível colher as mexericas e as frutas ficam livres para fazer outros seres felizes. É um texto de saudade”, contextualiza o autor de “A Neblina Tem Muitos Nomes”.

Já “Sutura” é um texto no qual a criança deseja ser atada à mãe. “Uma criança que procura segurança e serenidade na mãe, mas a vida, como se espera, para o bem de todos, vem cindir esta amálgama”. Último conto de “A Neblina Tem Muitos Nomes”, “Solstício” aborda a experiência da escrita. “Nunca tenho certeza se as letras virão me visitar, assim, sirvo chá, espicho o tempo, afasto os móveis da sala para a dança. Adulo a escrita e aguardo, sem a certeza de que as letras vão vingar”.

O livro

“A Neblina Tem Muitos Nomes” traz ilustrações originais de Julia Panadés e arte gráfica de Fernanda Gontijo. A orelha é assinada por Lucia Castello Branco, psicanalista e professora Titular em Estudos Literários da UFMG.

Confira, a seguir, três perguntas feitas ao autor

De que forma você percebeu que o luto vivenciado pela partida de sua mãe poderia se traduzir em palavras, em textos?

Na verdade, inicialmente, não tive essa percepção. Logo após o falecimento dela, tentei escrever um texto sobre a sua morte e não consegui. Eu passei a última noite junto a ela. Fiquei quatro meses sem conseguir escrever. Retomei a escrita com o conto “Ponto e vírgula”. Só depois foi possível finalizar o texto sobre a morte dela. Foi tudo espontâneo e intuitivo. Os textos vieram.

A escrita te ajudou a vivenciar este momento que é tão doloroso na vida da gente?

Sim, a escrita foi minha companheira. No livro, muitas coisas se repetem, como em um processo de elaboração, que lembra o da psicanálise. Nomear, renomear, um trabalho com as palavras. Aos poucos, fui lidando melhor com as cólicas da alma.

Sei que é difícil resumir em poucas palavras… Mas quem é, hoje, o Rodrigo que emergiu após passar por este processo…

Recorrendo ao livro, como escrevi no conto ‘Os desmanches”: aguardei a nossa separação a vida inteira. Pensei que, quando ela morresse, minha vida teria um ponto final. Para minha surpresa (e a dos que estão perto de mim), vivi apenas um ponto e vírgula. Foi uma pausa para elaborar a perda e depois prosseguir de uma forma diferente. Ou seja, sem a presença física dela, mas, agora, carregando-a todo o tempo comigo, para todos os lugares. Emergi um pouco mais sereno deste processo. Emergi com muito mais vida.

Serviço

Lançamento do livro “A Neblina Tem Muitos Nomes”, de Rodrigo Bragamotta

Quando. Neste sábado, dia 27 de abril, das 10 às 14h.

Onde. Vila 211 (Rua Estévão Pinto, 211, Serra)

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