“O Que Pode o Corpo?”, de Leonardo Barcelos, pode ser visto no CurtaOn

Fonte: Culturadoria | 06/Mai/2024

O filme, que pode ser acessado no streaming do canal Curta!, é parte da Trilogia do Corpo, investida do diretor mineiro Leonardo Barcelos

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Lançado no mês passado, no canal Curta!, e atualmente disponível no streaming CurtaOn, o longa-metragem “O Que Pode o Corpo?” (Tandera Filmes), nova investida do diretor mineiro Leonardo Barcelos, foi precedido por uma apresentação que, de pronto, já instiga o espectador. Nela, consta que a produção objetiva “abordar como o corpo emerge como protagonista, assumindo o papel de arena de debates públicos sobre questões cruciais da contemporaneidade”. Desse modo, “investiga as relações do corpo com a contemporaneidade por meio de um diálogo do cinema com grandes nomes da performance”.

“O Que Pode o Corpo?”, na verdade, é desdobramento de um projeto ainda mais amplo: a Trilogia do Corpo. Ou seja, além do citado filme, há, ainda outro longa-metragem, bem como uma série de TV. Não bastasse, virá um média-metragem e, possivelmente, também uma exposição de fechamento. A iniciativa, vale dizer, é fruto dos quase 10 anos de pesquisa de Leonardo Barcelos junto a uma equipe formadas por nomes bem consolidados do audiovisual mineiro/brasileiro. Isso porque, ao longo desse período, Barcelos trabalhou junto ao produtor André Hallak e em parceria com a Trem Chic, produtora associada encabeçada pelo multiartista Eder Santos.

Artistas, teóricos e personalidades

Nessa caminhada, a equipe foi estabelecendo trocas e parcerias com nomes importantes da performance mundo afora – no caso, espalhados em mais de 10 países. A saber: Marina Abramovic, ORLAN, José Celso Martinez, Rodrigo Braga, Ayrson Heráclito, Jo Clifford, Paulo Nazareth, Marco Paulo Rolla, Regina José Galindo, Carlos Martiel e Berna Reale, dentre outros.

De acordo com o material da iniciativa, os projetos que compõem a Trilogia do Corpo unem, “de forma inédita e singular, os maiores nomes da performance mundial, traçando um diálogo entre diferentes culturas e épocas”. Além dos artistas, as produções contam com depoimentos de personalidades e teóricos, como Suely Rolnik, Ailton Krenak, Paula Sibilia e Erika Hilton.

Embrião

Antes de adentrar ao filme “O Que Pode o Corpo?”, que, como já assinalado, é o primeiro passo da Trilogia, Leonardo Barcelos pontuou, ao Culturadoria, que, na verdade, pensar o corpo sempre foi um exercício presente nas obras e pesquisas anteriores às quais se enfronhou. No entanto, um marco importante no estágio embrionário da Trilogia se deu cerca de uma década atrás. Assim, em meio a conjecturas quanto ao novo projeto que o moveria, se deparou com o livro “Adeus ao Corpo – Antropologia e Sociedade”, do sociólogo francês David Le Breton.

“Na obra, ele (Le Breton) faz um apanhado do que chamou de ‘extremo contemporâneo'”, explica Barcelos. O cineasta confessa que foi “importante e estarrecedor” perceber, por meio da leitura do livro, como o corpo determina não só a nossa vida, mas também a sociedade como um todo. “E, assim, como as mudanças radicais que estão acontecendo – e vão continuar acontecendo – vão fazer com que os pensamentos sobre o nosso corpo, nossa matéria física, ou o abandono dela, sejam mais radicalizados”.

Corpo obsoleto

Não por outro motivo, prossegue Leonardo Barcelos, pensadores e artistas como o artista performático Stelarc, por exemplo, que professam que o corpo é obsoleto. “Uma máquina velha, ultrapassada. Desse modo, que a gente precisa evoluir enquanto humanidade e, possivelmente, nos telecarregarmos para dentro do universo virtual. Então, acho que essas questões propostas, elas renovam um pouco a nossa visão de o que que define o próprio ser humano. Daí, acho importante discutir tudo isso”.

Sendo assim, durante todos esses anos de pesquisa, e lendo bastante sobre o assunto a partir de pontos de vista de diferentes áreas, Leonardo Barcelos diz ter ficado mais clara a maneira como iria abordar o assunto no novo trabalho dele. “E pelo fato de o corpo ter essa própria dimensão multifacetada, a gente percebeu que deveríamos ter uma abordagem múltipla e diferente, para tentar dar conta do assunto. Assim chegamos a esse projeto batizado de Trilogia do Corpo”.

Série e filmes

Para facilitar o entendimento, são três obras que possuem abordagens bem diferentes e bem distintas. “E é até bom diferenciá-las, pois pode ficar confuso ou pode parecer que é a mesma coisa. Então, nós temos o ‘Corpo Presente’, que é um documentário mais híbrido, mais filosófico e subjetivo. Já ‘O Que Pode o Corpo?’, que foi lançado agora, no Canal Curta!, é um documentário mais clássico, que foca mais nos artistas, na associação entre eles. E fica um tempo mais nas performances de cada um”.

E, por último, a série Cartografias do Corpo, que, segundo Leonardo, tem uma linguagem mais dinâmica. Assim, conta com personagens conhecidos do público em geral, como a sérvia Marina Ibramovic, a deputada federal e ativista Erika Hilton e o diretor, ator e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, falecido em julho do ano passado. “Aliás, talvez tenha sido a última entrevista que ele deu”, pontua Leonardo Barcelos.

Temas atuais

Na série, esses e outros nomes discutem temas atuais – na maioria das vezes, por meio de performance, “essa modalidade emblemática da nossa época”, situa Leonardo. “Muitos desses artistas estão há três décadas trabalhando sobre alguns desses assuntos (tratados). Então, ao juntá-los, ao fazer esse apanhado, essa associação entre eles, a gente já acaba dizendo da história da arte. E, num espectro mais amplo, em certo sentido, do mundo, com as mudanças que ocorreram tanto no campo da filosofia, da política, do comportamento”.

Público-alvo

Perguntado sobre a que público “O Que Pode o Corpo?” se destina, Leonardo Barcelos analisa que, de pronto, a todos aqueles interessados em discutir o corpo humano e uma série de questões prementes do mundo contemporâneo. “Na verdade, além de discutir, de abrir questões importantes, relevantes, da atualidade, o filme também coloca o próprio corpo em cheque. Assim, discutindo como ele vem sendo visto por diferentes áreas do saber, chegando até à biotecnologia, com a criação de novos corpos”.

Em um recorte mais específico, porém, o público-alvo seriam os interessados em artes em geral. “Ou seja, em todos os tipos de manifestações artísticas, em especial, na performance, que é a modalidade que o filme escolhe para retratar os diversos temas”.

Temáticas

E aí, dentro disso, ele cita também os teóricos, que trabalham sobre os temas que permeiam a trilogia, e, tal qual, as próprias minorias que são nela retratadas. “De uma certa forma, o filme dá voz a elas, ao trabalhar temas como as questões de gênero e identidade, incluindo a luta LGBTQI+. E, ainda, a colonização e a decolonização, as questões negras (com a diáspora africana e a escravidão), cosmovisão e ancestralidade…”

Também entram, neste rol, as questões feministas. “Incluindo até a luta contra o patriarcado, o aborto, o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo”. E, ainda, o uso das próteses avançadas e criativas. E os impactos que a biotecnologia tem em nossos corpos”.

A arte no mundo atual

Um outro ponto importante que o filme aborda – e que, na verdade, Leonardo Barcelos vê como um dos cernes dele -, é o papel da arte no mundo atual. “Tal qual, como que a gente pode usá-la de uma forma política. Então, acho que a intenção é que o público possa deixar seus corpos serem atravessados – e afetados – pelas diferentes corporalidades presentes na tela. E, assim, que cheguem às próprias conclusões sobre os assuntos abordados. Para resumir, a minha intenção é discutir temas relevantes para nos entendermos enquanto indivíduos – e também enquanto sociedade”.

Logo no início, o filme de Leonardo Barcelos o filme, abre com a famosa imagem “The Horse in Motion”, de fotógrafo inglês Eadweard Muybridge. “E ali, durante essa abertura, a gente também pode ver o uso dos moldes com as projeções, já fazendo uma alusão a essa abordagem estética diferenciada. Temos falas do (professor e pesquisador) Carlos Magno Mendonça e do (psiquiatra) Hélio Lauar, que são os dois especialistas que estão no documentário, e que já abrem dando contorno às questões que serão abordadas, com falas bastante precisas e sintéticas do assunto”

Apanhado

Daí, o filme traz um apanhado de várias obras de diferentes épocas, dos diversos artistas que estão no documentário. Desse modo, mostra como elas dialogam entre si, trazendo corpos e histórias de épocas diferentes. “Então, já entramos, ali, nessa profusão de possibilidades, de imagens. E na sequência tem uma fala da Natacha Voliakovsky, performer e ativista argentina que reside em Nova York”. A artista queer, lembra Leonardo, desenvolve uma pesquisa muito sólida sobre o feminino. “E ela sempre trabalha as questões de forma mais radical. Aliás, ela sempre fala que baseou muito a pesquisa em Orlan. E logo depois da fala dela, vem a Orlan, talvez uma das mais importantes artistas do nosso tempo”

Aos 76 anos, Mireille Suzanne Francette Porte, conhecida como Orlan, além de pesquisadora, sempre teve o nome atrelado à luta pelos direitos da mulher. Orlan se tornou conhecida com a performance O Beijo do Artista, na qual vendia um beijo para quem estivesse passando na rua, em Paris. “Foi uma obra bastante controversa e que rendeu muita polêmica na França, à época. É um divisor de águas na carreira dela. Então, acho que esse trecho do filme resume todos os elementos que o documentário aborda. Tem o corpo, tem as obras, tem as falas, a abordagem diferenciada e como são feitas as associações entre esses diversos materiais”.

A Trilogia do Corpo

Com previsão de lançamento no segundo semestre, a série “Cartografias do Corpo”, segundo produto da Trilogia do Corpo, tem estreia garantida na Rede Minas, dentro do programa Olhar Independente. A série foi selecionada para importantes festivais e mercados ao longo de sua realização, como o DocMontevideo – Se?rie Pitching 2019 e ChileDoc Conecta – Conectados 2021.

Dividida em 13 episódios, a série apresenta um mosaico de personagens que discutem o corpo contemporâneo através da arte, com base em entrevistas com artistas performáticos que revisitam suas trajetórias e especialistas, discutindo o corpo como elemento político, tecnológico e social.

Em outubro, chega às salas de cinema do país o longa-metragem “Corpo Presente”, em parceria com a distribuidora mineira Embaúba Filmes. O filme teve sua estreia mundial em janeiro de 2023, na programação da 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Tal qual, passou pelo 12º Festival Internacional Rio LGBTQIA+, foi destaque nacional no 31º Festival Internacional MIX Brasil e teve estreia internacional como o único longa-documentário mineiro no 44º Festival Internacional del Nuevo Cine Latino Americano de Havana.

“Corpo Presente”

Ainda de acordo com o material de divulgação da Trilogia, “Corpo Presente” é um documentário híbrido com um tom mais experimental ao colocar o corpo e a ideia de corpo em evidência. Isso, por meio da metalinguagem, da articulação e do confronto de linguagens documentais, ficcionais e performáticas. “É através da aproximação destas três abordagens, do embate entre elas e das questões que levantam, que o filme constrói a sua voz”.

Desse modo, o espectador acompanha de perto a jornada autobiográfica da personagem principal, que, numa espécie de diário subjetivo escrito na pele, registra sensações e reflexões. Desse modo, buscando compreender a si mesma e o mundo ao redor. Ao se deparar com diferentes experiências, ela conduz o público a outros corpos e outras histórias que habitam a humanidade.

Sobre Leonardo Barcelos

Leonardo Barcelos é bacharel em Comunicac?a?o Social (UFMG) e Po?s-Graduado em Comunicac?a?o, Novas Tecnologias e Hipermi?dia. Trabalha e vive em Belo Horizonte e possui mais de 20 anos de experie?ncia com audiovisual. É membro fundador do espac?o Teia, um dos mais importantes grupos de audiovisual do pai?s, com obras exibidas em importantes festivais. Entre eles, o de Brasilia, Rio, Mostra de Tiradentes, E? Tudo verdade, Berlinale, Veneza, Toronto, San Sebastia?n, Locarno, Roterda?, Sundance, Karlovy Vary e DOK Leipzig. Não bastasse, obras exibidas e instaladas em museus como MoMa and New Museum (NY), Inhotim, entre outros

Leonardo ja? dirigiu e roteirizou uma se?rie, dois longas e seis curtas, incluindo os premiados “Noiva de Deus” e “Nacos de Pele”. O primeiro longa, “Balança Mas Não Cai”, trilhou carreira em festivais internacionais e nacionais. Já o segundo, foi o já citado “Corpo Presente”. As obras dele já foram exibidas em mais de 40 pai?ses, bem como premiadas em festivais nacionais e internacionais, ale?m de comercializadas em salas de exibic?a?o, canais de TV e no streaming.

Serviço

“O Que Pode o Corpo?”

Para assistir, basta acessar o CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels – da Amazon –, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br).

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