Vida e obra de Maria Helena Andrés norteiam dois novos livros

Fonte: Culturadoria | 08/Mai/2024

Os títulos “Fortuna Crítica” e “Trajetória Artística” esquadrinham a trajetória pessoal e artística da mineira Maria Helena Andrés

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Dois lançamentos do mercado editorial endossam as celebrações da trajetória de uma das mais respeitadas artistas visuais mineiras: Maria Helena Andrés. Atualmente com 101 anos, a também escritora tem vida e trajetória, bem como críticas acerca do trabalho que desenvolve, como eixos de “Fortuna Crítica”, de Nelyane Gonçalves Santos e Marília Andrés Ribeiro, e de “Trajetória artística”, de Eliana Andrés Ribeiro.

Ambos os livros tiveram uma manhã de lançamento presencial, no último dia 4 de maio, na Livraria e Café Quixote. Para quem não pode ir, as obras já se encontram à venda, em livrarias físicas – como a própria Quixote – ou virtuais. Em tempo: como medida de acessibilidade, os livros possuem áudio com locução do ator Luciano Luppi, disponíveis no Spotify.

“Trajetória Artística”

Em “Trajetória Artística”, a arquiteta e professora de Yoga Eliana Andrés Ribeiro aborda as múltiplas facetas de Maria Helena Andrés. Assim, o lado artista, tal qual a pensadora, educadora e mãe. Ao Culturadoria, Eliana conta que a elaboração foi, de certa forma, muito tranquila. Isso porque, desde 2011, ela já vinha organizando o arquivo da artista, inclusive com textos acompanhando as imagens. “À medida que o tempo ia passando, fui acrescentando eventos, exposições, realizações, publicações da artista”.

Desse modo, tudo era organizado em cadernos, cujas cópias eventualmente eram entregues a galeristas, colecionadores ou críticos de arte. Foi Marília Andrés, que a me incentivou a publicar “Trajetória Artística”. “São poucas páginas, 63, mas com muita informação, que permitem uma visão panorâmica de tudo de mais relevante que foi feito por ela nesses mais de 80 anos dedicados à arte”.

Embasamento

Na verdade, Eliana pontua que tais escritos inclusive a ajudaram a organizar a linha do tempo para duas exposições. Primeiramente, “Linha e Gesto”, apresentada no Palácio das Artes em 2009. Tal qual, a que marcou o centenário da artista, em 2022. Do mesmo modo, norteou o filme “Arte Transcendência” (2016). “Esse texto foi referência para a elaboração do filme, dirigido por Evandro Lemos da Cunha e Danilo Vilaça. À época, nós formamos uma equipe familiar para dar suporte e informações”. O filme, aliás, está disponível no site do Instituto Maria Helena Andrés.

“Fortuna Crítica”

O livro “Fortuna Crítica” se apresenta como um dossiê, abarcando várias críticas escritas no curso do tempo sobre Maria Helena Andrés. De acordo com Marília Andrés, mesmo sendo assinadas por tantos nomes, e abordando diferentes fases da obra de Maria Helena, existe uma convergência que aponta o talento, a sensibilidade e a dedicação da mineira ao fazer artístico.

Os comentários críticos foram separados e organizados pela própria Maria Helena. Num segundo momento, selecionados e digitados por Eliana Andrés. Na sequência, catalogados e higienizados por Nelyane Gonçalves Santos. “E, por fim, organizados por mim e Nelyane, e transformados em e-book, disponível na Amazon e no site do Instituto Maria Helena Andrés”.

O livro

Já o livro é fruto de uma atualização do material, atualizado. A publicação traz prefácio de Rita Lages. Marília Andrés entende que todas as críticas foram importantes para a artista. “Desse modo, impulsionaram o trabalho dela durante cada fase. Maria Helena sempre considerou profícuo o diálogo com críticos e curadores, procurando aproveitá-lo para enriquecer o próprio trabalho e se situar no circuito artístico”.

Abaixo, da esquerda para a direita, Marília, Nelyane, Maria Helena Andrés e Eliana (foto José Israel Abrantes/Divulgação)

Ao Culturadoria, Eliana Andrés Ribeiro destacou pontos que o livro “Trajetória Artística”

Artista pensadora

Eliana destaca que Maria Helena Andrés é, antes de tudo, uma artista pensadora. “O primeiro livro que publicou foi em 1966, ‘Vivenciarte’. Naquela época, ela se interessava muito pela mensagem de vários pensadores cristãos, como Thomas Merton, Santa Teresa D’Ávila, São João da Cruz, Jacques Maritain. Assim, o livro já mostra a busca pela espiritualidade por parte dela”.

Conexão com o Oriente

A arquiteta ressalta que, em 1970, Maria Helena decide fazer uma viagem de volta ao mundo. “Mas não uma viagem em função de bolsa de estudos ou de alguma exposição, e, sim, turística, que consumiu mais de dois meses”. Nesta empreitada, a artista foi até o Japão e, do mesmo modo, pisou pela primeira vez na Índia. De imediato, se conectou à cultura oriental. “Assim, quando volta ao Brasil, começa a ler obras de vários autores, como Swami Vivekananda, Sri Ramakrishna Paramahamsa e Jiddu Krishnamurti”.

Tal qual, Maria Helena também passa a se dedicar à leitura de textos de expoentes que, mesmo sendo ocidentais, mantinham estreita afinidade com o Oriente, caso do filósofo britânico-americano Alan Watts. “São exemplos que mostram a necessidade dela de conhecer o mundo. Na verdade, Maria Helena tinha, do pai, liberdade para fazer essas viagens, mas, além disso, ela tinha também a coragem”.

Prática

Eliana lembra que, à época, o acesso à obra de autores de locais tão distantes daqui (como os que eram do interesse de Maria Helena), do Brasil, era muito mais limitado. “Depois, ela passa também a integrar, à vida, uma série de práticas, como a Yoga, como massagens, shiatsu, Do-in… Tal qual, lia muito o I-Ching, tinha práticas de meditação…”. A autora de “Trajetória Artística” recorda que a década de 1970 foi muito efervescente nesse sentido – da intensa busca por filosofias que tentassem dar conta da complexidade da existência humana.

Em 1978, Maria Helena Andrés teve a oportunidade de passar um ano na Índia, que, à época, era uma espécie de meca. “Via-se jovens chegando do mundo inteiro. Anos antes, os Beatles estiveram lá, e acho que isso teve uma influência grande na minha geração. Havia muitas palestras, trocas de experiência, de estudos. Foi muito interessante, essa época”. Na Índia, Maria Helena pode, pois, beber direto na fonte. “Assim, ela pode ver de perto a origem de toda aquela sabedoria através do contato nas comunidades”.

No entanto, a escritora ressalva que, no período em que morou na Índia, Maria Helena Andrés nunca se filiou a nenhuma organização espiritualista ou religiosa. “Ao mesmo tempo, respeitava, e respeita, todas elas como diferentes caminhos que podem conduzir o ser humano ao auto-conhecimento, a clareza quanto ao sentido da vida e conhecer mesmo as origens cósmicas de cada um de nós”. A artista fez outras viagens ao Oriente, porém por períodos mais curtos. “A cada uma tinha a oportunidade de ampliar sua visão de mundo”.

Impacto no fazer artístico

Como esperado, todo este movimento acabou impactando a própria obra de Maria Helena Andrés. No início, ainda nos anos 1960, na fase cósmica. “Depois, a das mandalas, na década de 70, início de 80, para culminar nos grandes painéis, em 1984, 85, também com a temática cósmica. Então, tudo isso é reflexo dessa busca espiritual, pelo auto-conhecimento, de aprender, de querer saber o sentido da vida”.

Ou seja, tentar encontrar respostas para questões que acompanham o ser humano desde sempre: “Por que estamos aqui?”, “Para onde vamos?”. “Tudo isso veio como uma busca interna dela, que transcende para a arte. Como dizia Wassily Kandinsky, através da arte abstrata, o artista tem mais facilidade para expressar suas necessidades internas”.

“Os Caminhos da Arte”

Ainda na década de 1970, foi lançado o livro “Os Caminhos da Arte”, que teve uma segunda edição em 2000 e uma terceira, em 2015. Eliana lembra que participou da organização da segunda e da terceira edição, sendo que nessa última houve o acréscimo de vários capítulos. “Principalmente na última parte, ‘Arte e Expansão da Consciência’. Assim, é um livro que fala da ligação entre a arte e a meditação”. Do mesmo modo, Maria Helena fez vários workshops na Universidade Holística Internacional – UniPaz, em Brasília, a convite do reitor Pierre Weil.

A experiência foi replicada em outras praças, como Salvador e BH. As ideias de Maria Helena Andrés foram reunidas e publicadas em “Os Caminhos da Arte”, que, diz Eliana, é considerado um livro referência. As ideias nele contidas, prossegue, reverberaram nos festivais de inverno de Entre Rios de Minas, a partir de 2005, quando o Instituto Maria Helena Andrés foi criado.

Diário de Viagem

Em 1993, Maria Helena Andrés lança uma espécie de diário de viagens, no qual fala das viagens ao Japão, ao Nepal e, principalmente, à Índia. “No caso, não por meio de roteiros turísticos, e, sim, mais artísticos e espirituais. É um livro simples, mas que tem uma essência, uma sabedoria… Tem poucas páginas, mas muito conteúdo de vida, de vivência, das viagens. Aliás, o escritor Autran Dourado (1926 – 2012) o definiu como ‘um pequeno grande livro’. Eliana lembra que há, no site do Instituto Maria Helena Andrés, um vídeo do crítico de arte Agnaldo Farias, comentando o livro.

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